Tudo começou naquele janeiro de 1984 quando uma empresa de calçados voltado a atletas de alto rendimento, mais especificamente para a modalidade atletismo, realizou um dos maiores contratos publicitários com um jovem jogador de basquete americano. Esse jovem era um rapaz que surgiu na Carolina do Norte (EUA) e que fazia números extraordinários no College Basketball. Depois, passou pelo Draft e naquele ano começou a fazer parte de uma das piores franquias da NBA. Esse jovem era Michael Jeffrey Jordan, ou simplesmente, Michael Jordan.
A empresa em questão era a Nike, fundada em 1972, e até então era uma empresa voltada quase que exclusivamente para o mercado do atletismo. Seus calçados eram confortáveis e com um ótimo acabamento. Porém não conseguia uma grande penetração no mercado de esportes mais populares, como o basquete e também o futebol americano. Seus concorrentes na época eram a poderosa Adidas e o Converse, duas marcas que tinham seus contratos com jogadores gigantes, como Magic Johnson e Laddy Bird.
A Nike nunca conseguiria entrar nesse mercado com força se apostasse num grande jogador. Então sua ideia foi investir nesse jovem jogador que prometia ser um dos maiores da história. Então em 1984 aconteceu um dos maiores cases de sucesso entre marcas e “garotos propagandas”. Foi lançado o “AIR JORDAN”, com a junção entre Michael Jordan e Nike, um tênis voltado para os praticantes de basquete.
A Nike aumentou sua fatia de mercado consideravelmente, passou a ser conhecida mundialmente, pois todos queriam ser como Michael e ter o seu tênis. Uma parceria com essas mesmas proporções só voltou a acontecer em 1997, com a Nike e o Ronaldo.
Numa simples estratégia de mídia, uma marca anuncia com a expectativa que o meio de comunicação possa dar projeção e construção da sua marca, para que ela possa prevalecer e conquistar sua fatia de mercado. Porém quando uma marca se associa diretamente a uma “personalidade”, o risco pode ser muito maior, já que a figura pública pode ajudar ou prejudicar muito sua reputação.
A diferença é que antes, para se associar a uma marca, essa “personalidade” geralmente tendia a ser uma figura construtiva, seja no esporte ou numa carreira de modelo, algo inalcançável para o grande público. Hoje, em plena era das redes sociais, temos inúmeros “artistas digitais” que possuem um grande número de seguidores. O suficiente para as marcas se associarem a eles, com a prerrogativa que esse “famoso digital” possa trazer visibilidade junto ao target.
E foi exatamente isso que aconteceu. Uma explosão de celebridades conhecidas hoje como “digital influencers” que possuem contratos gigantes em troca de permutas ou valores significativos para anunciarem marcas em suas redes sociais. Para muitas empresas, isso foi a solução para visibilidade e sem as burocracias da publicidade em geral. Não é à toa que blogueiras e digital influencers faturam até R$ 150 mil por campanhas em redes sociais. *Segundo a matéria do Estado de Minas: https://www.em.com.br/app/noticia/patrocinado/patrocinado/2019/07/01/patrocinado,1066200/blogueiras-e-digital-influencers-faturam-ate-r-150-mil-por-campanha-n.shtml
Porém, chegando em 2020, o mercado publicitário é forçado a parar e repensar devido à pandemia do novo coronavírus. O mercado com receio de investir, veículos e agências de comunicação tentando se desdobrar para manter as campanhas em veiculação, era questão de dias para isso reverberar nos influenciadores.
Nos meses de abril e maio de 2020, quando as medidas de saúde atingiram todo o mundo e houve apelo para que as pessoas ficassem em casa, o consumo em certos segmentos diminuiu, alguns hábitos precisaram ser mudados. Para os influencers que tinham foco na geração de conteúdo a partir de festas, viagens e restaurantes, houve dificuldade em produzir conteúdos em casa.
A grande lição que fica é que para os grandes influenciadores se manterem financeiramente saudáveis, a produção de conteúdo deve ir além de bares, restaurantes e viagens. Isso fez com que muitos criadores de conteúdo repensassem, saíssem de suas bolhas sociais e fossem atrás de algo que possa atrair novamente o interesse das marcas.
Garoto propaganda ou influencers, na prática são a mesma coisa, o que muda são as tecnologias e acessos. Mas o resultado é o mesmo, para as marcas se manterem interessadas em uma personalidade, ela precisa ser algo mais que likes e visibilidade, precisa de conteúdo, qualidade e transparência. Afinal, Jordan, Ronaldo e Felipe Neto nesse mundo publicitário tem exatamente o mesmo peso.