Publicidade e a Fórmula 1

Domingo de manhã. Eu acordava mais cedo para acompanhar aquela barulheira toda. Meados dos anos 2000, o início da “Era Michael Schumacher” causando terror aos brasileiros, deixando o Rubinho e toda aquela raiva do brasileiro para trás. Imagina no esporte um alemão ultrapassar os brasileiros…

Com o passar dos anos, aprendi a gostar das competições. Apesar de parecer apenas uma corrida matutina, a Fórmula 1 é um esporte de alto risco e de muita, mas muita estratégia.

Desde o seu início oficial na década de 30, a competição começou a ganhar forma e regras, porém havia poucos carros, pilotos e torcida. Por questões óbvias, houve uma pausa na década de 40 e a retomada oficial se deu no dia 13 de maio de 1950. E mesmo com o cenário pós II Guerra Mundial, os motores do carros da F1 ainda eram da década passada, pois não havia investimento o suficiente para evoluir com a tecnologia.

O mais interessante nisso tudo é observar como a política esteve e está até hoje influenciando a evolução do esporte. Dada as décadas de 50 e 60, no auge da Guerra Fria, que impulsionou um investimento gigantesco em tecnologia robótica, armamentista, espacial e motores automotivos. Mesmo sendo um esporte praticado por uma elite financeira.

Isto baseado em um pensamento que era: quanto mais carros eu produzo e minha marca e motor aparecem, mais comercializo no mundo todo, gerando receita e investimento em indústria. Irônico pensar também que, historicamente, os EUA nunca foram uma potência automobilística, pelo menos não na Fórmula 1. E, para a tristeza de nós brasileiros, o primeiro grande campeão da competição era um argentino (Juan Manuel Fangio)!

Apesar de ser um esporte genuinamente individual, existe estratégia, cálculo e apostas. Estratégia para a composição do piloto, troca e tipo de pneu, motor e toda a aerodinâmica que suporte os treinos, classificação e corrida. Cálculo para que tudo ocorra dentro da conformidade. E por último, a aposta. Afinal, qualquer variável não prevista, e até mesmo prevista, pode dar errado.

E cá me deparo com um monte de ideias supostamente criativas, elaborar uma campanha estratégia para um cliente ou para o meu próprio negócio. Por mais simples que pareça, o objetivo de qualquer empresa é gerar lucro. Óbvio, não? Estratégia, cálculo e aposta, lembra?

Estratégia é começar a entender qual o grande objetivo e quais serão os caminhos para se traçar. O objetivo é ganhar o título da temporada? É arriscado demais e precisa de um investimento bem significativo. Não, vamos trazer para a nossa realidade, vamos nos manter no meio da tabela, pois não temos estrutura para competir entre a Ferrari e a Mercedes, porém podemos fazer um belo trabalho e nos manter saudáveis financeiramente, competitivos e trazer uma imagem positiva para a escuderia.

Existem cálculos, investimentos separados, afinal, não podemos pagar o piloto e o mecânico com a mesma verba, são centro de custos diferentes. Requer cuidado e precisão, pois um número fora do lugar, pode pôr tudo a perder.

Aposta, mesmo o maior confiante, precisa de um pouco de sorte, porém a sorte não favorece quem não tem alguma diretriz. Precisa-se de foco, tudo em seu devido lugar.

Ok, estamos prontos… Carro na linha de largada, fizemos tudo que deveria ser feito, calculamos todos os riscos. Mas surge um barulho no céu, parece que vai chover… Corre, troca de pneus, coloca o “intermediate blue” e vamos em frente.

Mas com a pista molhada fica mais difícil de manter a aderência, fica mais instável, o carro pode aquaplanar e corre o risco de perder tudo. Há a alternativa de ir para os boxes e esperar essa chuva passar. Mas nesse detalhe podemos perder a temporada toda.

Enfrentar crises é o cotidiano de qualquer marca. Manter um valor de marca ativo é uma variável positiva para manter a marca mais saudável no pós-crise. Esperar a crise passar para agir é um dos grandes equívocos.

A decisão de ir para os boxes pode nos deixar lentos e atrasados. E, talvez, aquela empresa Kart pequenininha pode gerar resultados e futuramente largar na frente na temporada seguinte. E mais, pode ser que essa chuva demore um bom tempo para passar.

Um estudo recente da Kantar aponta que as marcas que investem mais durante as crises crescem até 5 vezes mais do que as outras.

Afinal, o que faz um piloto vencedor não é ele ser excepcional em uma corrida, mas sim consistente durante toda a temporada.